sábado, 4 de abril de 2009

Resgate

Título do Projeto
Resgate
Autor
Sandra ferreira de Faria vieira
1.Storyline
"Resgate" conta a hístória de um casal dividido entre o amor e o trabalho. Levado pelo medo do passado, a intuição leva carlos a fugir do amor de sua esposa. Com a justificativa da profissão, ele vive distante da família e desconhece um grande drama por que passa Helena. Só e aflita, ela se apega ao dois filhinhos, e a única amiga Carola para suportar a dor, a saudade e a incerteza da volta de Carlos, que de uma hora para outra se torna um prisioneiro de guerra.
ROTEIRO

TÍTULO:
RESGATE

AUTOR: SANDRA FARIA VIEIRA
CATEGORIA: MÉDIA METRAGEM.

STATUS: INÉDITO.
FADE IN:


EXT. AEROPORTO-SEIS HORAS.


No céu de Belo Horizonte o avião aproxima. Após aterrizagem abre-se a porta, um homem de trinta e cinco anos, moreno claro, olhos castanhos aparece na porta e desce. Ele tem uma mochila nas costas e uma pasta na mão. Carlos Cury pára e olha pro céu. Começa a chover, então abre a mochila tira a capa e se veste.

EXT. FRENTE AO AEROPORTO-MANHÃ

Carlos acena para um táxi que aproxima. O carro pára e o motorista abre a porta. Carlos senta no banco de trás do automóvel e coloca o cinto. Depois Olha pelo retrovisor e vê o rosto do motorista. Homem de estatura forte, olhos e bigode escuros, rosto redondo 55 anos.

Carlos sorri enquanto olha sua aliança na mão esquerda. Tira-a do dedo, brinca com ela e a coloca novamente no lugar.

EXT. RUAS E AVENIDAS-MANHÃ

Música suave, enquanto o carro segue por ruas e avenidas, parando nos semáforos e congestionamento da praça sete.

Do banco de trás Carlos acompanha atento por onde passa olhando as pessoas, Os prédios que de tão altos se perdem no céu e O nervoso do motorista que usa a buzina pra chamar atenção de alguns pedestres imprudentes.

INT.APARTAMENTO DE HELENA-SALA/MANHÃ.

Helena, mulher jovem trinta e dois anos cabelos loiros olhos azuis, um metro e sessenta e cinco centímetros. Ela olha o relógio na parede que marca oito horas e quinze minutos. Na Sala sofás de três e dois lugares, mesinha no centro e um quadro na parede. Ela coloca as mãos no peito, sorrindo. Ajeita a melhor posição para deixar os dois carrinhos, arruma os bebês. Eles dormem. Beija-os. Dá dois passos atrás e respira fundo.

EXT. RUA-FRENTE AO PRÉDIO

Pára o táxi. O motorista desce e abre a porta. Carlos desce e de mochila na mão olha firme rumo à portaria. Envolvido na capa ainda molhada por gotas da chuva ele caminha a passos rápidos até o salgão do prédio e chama pelo elevador.

INT.SALA-MANHÃ

Toca a companhia

'' HELENA
Meu Deus! É ele!

Abre a porta. Carlos sorri e solta a mochila no chão. Abre os braços. Helena corre para eles.

CARLOS (ABRAÇADO A ELA)
Que saudades de você, minha linda. E meus filhos como estão?

HELENA
Estão bem Carlos, e você?Quando ligou dizendo que chegaria
hoje, nem acreditei.

CARLOS
Tivemos que mudar os nossos planos, depois falaremos no aassunto, agora quero conhecer nossos filhos, urgentemente.

HELENA
Estão aqui, vem ver vem! só que não consegui mantê-los acordados depois do banho.

Carlos segurando as mãos de Helena aproxima dos carrinhos, entre um e outro beija ambas as mãozinhas delicadamente. Emociona e chora. Helena chega mais perto e abraça-o. Por minutos eles ficam ali parados, admirando os filhos e um ao outro, sentindo a magia do momento.

EXT. PISCINA-TARDE/CLUBE

Música suave

Helena está dentro da piscina e dá um mergulho. Carlos vem nadando do outro lado ao seu encontro,eles se beijam,riem, jogam água um no outro. Apostam quem chega primeiro. Cansados saem da água. Helena apanha a toalha, enrola-se e senta na cadeira. Carlos aproxima deita no chão e descansa a cabeça no colo de Helena que faz um carinho nos seus cabelos.

EXT. SACADA DA ESCADA-TARDE.

Helena de um lado da porta Carlos do outro se olham por alguns minutos.

HELENA
E agora podemos conversar seriamente?

CARLOS
Hum! Amanhã, ta bem?Hoje é dia de festa!
Acabo de reencontrar a minha família que eu amo muito, não dá pra falar de coisas tristes em momentos mágicos como esses.

HELENA
Morro um pouco a cada dia, quando imagino você no meio daquela guerra.

CARLOS
O mundo precisa de jornalistas de Boa vontade. Não se preocupe nada vai me acontecer de mal. Vamos entrar? Amanhã agente conversa.

INT. QUARTO /NOITE

O casal se beija e se abraça. A noite é fria. Helena suspira agarrada em Carlos. Fecha um pouco os olhos, abre e olha o teto.

Carlos dorme. Helena levanta sem fazer barulho, vai até a porta abre.

INT.COZINHA-NOITE

Helena abre uma caixa de remédios tira um comprimido e toma com copo de água. LEVA A mão no rosto e resmunga.

HELENA (cont.)
Como vou falar pra ele, meu Deus!

Fecha a caixa que tem nas mãos, guarda-a no armário vai até o apagador e apaga a luz.

INT.QUARTO-MANHÃ.

HELENA (DOBRANDO O EDREDOM)
Você quer mesmo voltar pro meio daquela gente?

CARLOS
Por que você insiste nisso agora?

Helena solta o edredon

HELENA (nervosa)
Por que eu estou aflita. Antes me dizia que seu contrato com a editora terminaria daqui a quinze dias, e que não iria refazê-lo. Por que veio antes?

CARLOS
Eles querem que eu fique mais alguns meses.

Helena suspira de novo, joga o lençol de lado e começa a andar de um lado a outro dentro do quarto.
CARLOS
Helena, eu preciso de mais algum tempo.

HELENA
Não foi assim que combinamos.
O seu grande problema é saber me pedir tempo. Eu não tenho mais tempo para lhe dar. Não sou dona do tempo. Agora peça tempo para Deus, pois eu já cansei de te esperar.


Helena sai em direção à porta. Carlos fica parado olhando.


INT.CORREDOR-MANHÃ.

Choro engolido. ELA CAMINHA segurando na parede, com alguma dificuldade, então pára encosta na parede e coloca as costas das mãos na testa. Nesse instante vem ao seu encontro uma entidade espiritual. Mulher espírito quarenta anos, olhos azuis, áurea brilhante, que acompanha a cena num silêncio profundo de quem sente no fundo do ser o sentimento então contido da protegida.

A entidade vai até Helena e a abraça, ela não vê. Helena sente certo alívio na alma que a faz respirar fundo e reagir. Segura nas paredes e segue em frente.

INT.SALA-MANHÃ.

Helena vai até o telefone e disca.

HELENA (O.S)
Preciso lhe falar agora. Estou muito agoniada.

Ao seu lado a entidade continua envolvendo-a num abraço.

Do outro lado da linha está Carola, amiga de infância que mora no mesmo bairro. Mulher jovem, 25 anos, morena clara, cabelos lisos e olhos também pretos.

INT.SALA DE CAROLA-MANHÃ.

CAROLA (O.V)
O que aconteceu? Quer que eu vá aí?

HELENA. (O.S)
Não. Carlos está aqui. Não quero que ele ouça a nossa conversa.


INT.CASA DE CAROLA-MANHÃ.

Nos braços de carola Helena chora compulsivamente.

INT.CASA DE HELENA-QUARTO.

Carlos com os dois filhos nos braços. Eles choram ao mesmo tempo. Carlos balança os filhos,sacode,coloca a mamadeira na boca de um, o outro faz xixi, Ele vai pegar a chupeta, não encontra na caixinha ao lado.

INT.SALA-CINCO MINUTOS MAIS TARDE.

Carlos canta pra eles. Os olhos de Bruno brilham olhando o pai. Pára de chorar. Lucas também pára.

Carlos sorri.

INT.COZINHA-SETE MINUTOS MAIS TARDE.

Carlos coloca os filhos no carrinho.
Os dois estão calmos. Saí em direção à sala, empurrando o carrinho com os filhos.

Sente o cheiro de xixi, pára e coloca as mãos em Bruno.

CARLOS (PALPANDO O BUMBUM)
Meu Deus! Onde foi a mamãe de vocês?Veja só filho! Está todo molhado! O papai nunca trocou um bebê antes.

Empurra novamente em direção do quarto.

INT.QUARTO. DIA

Troca o filho, dá a mamadeira que encontra ao lado do berço e canta uma musiquinha de ninar. Os dois dormem. Sai pé ante pé.

INT.COZINHA–MEIO DIA.

Vai até a geladeira, abre, pega uma jarra de água, coloca no copo e toma um gole.

MÚSICA SUAVE.

INT.SALA. TARDE.

Carlos está sentado no sofá de dois lugares. A companhia toca. Carlos se levanta, passa a mãos nos cabelos e vai abrir. Helena está parada na soleira com os braços cruzados e mãos nos ombros. Olha nos olhos dele.

CARLOS
Porque saiu correndo daquele jeito?

Helena abaixa a cabeça e passa por ele. Carlos vai atrás.

INT.COZINHA-DIA.

Helena abre a geladeira, enche um copo de água e senta-se a mesa.


HELENA (olhando o marido)
Há coisas que você não terá resposta, se voltar para essa maldita guerra. Guerra que não é sua nem minha. Enquanto eu vivo a minha guerra pessoal lutando aqui sozinha. Você mal acabou de chegar e já quer partir. A vida não pára por que está fora. Há coisas que acontece e você nem percebe. Só o trabalho lhe interessa.


Carlos senta do outro lado da mesa, coloca sua mão sobre a mão de Helena. Olha em seus olhos.

CARLOS
Eu nunca deixei que lhe faltasse nada, preocupo muito com você e com nossos filhos. Morro de saudades!

HELENA
E! Passa dias sem ligar. Eu até suportaria essa situação se esse trabalho fosse a sua única opção na vida. Para o profissional que é elas são inúmeras que eu sei.


Helena levanta vai até Carlos e o abraça com força pelas costas.

HELENA (cont.)
Volto a pedir, meu amor, fica de vez com agente. Agora quem precisa de você sou eu. Liga pro
Seu chefe e diz que não vai voltar, diz! Eles que arrume outro. O seu contrato já terminou que eu sei. Só Deus sabe o quanto eu esperei por esse momento. Nem no nascimento dos seus filhos você pôde estar presente.


CARLOS
Pode não acreditar, mas eu sofro muito com isso.


INT.COZINHA-TARDE.

Helena prepara o café. Traz o cabelo preso e o rosto marcado pela dor. Vai até o armário, pega duas caixas de medicamentos e um copo de água.Senta-se à mesa e duas lágrimas rolam pelo seu rosto


HELENA PASSA OS DEDOS AO REDOR DO COPO NUM SÓ RITMO. OLHOS PARADOS.

INT.CONSULTÓRIO MÉDICO-DIA

MÉDICO (LEMBRANÇAS)
O importante é você se cuidar, Helena. Nós estamos fazendo tudo que é possível. Mas deveria estar aqui com O seu marido para contar toda a verdade.

HELENA
Eu sei Doutor. Assim que ele voltar eu conto tudo. Só não gostaria de dar uma notícia como essa, por telefone.

VOLTA A CENA

O toque da companhia. Helena vai até a porta,ABRE Carola entra, olha o rosto da amiga e lhe dá um abraço. Voltam para a cozinha e sentam–se à mesa.

HELENA (CONTINUAÇAÕ)
Que bom que veio. Preciso de forças para assumir uma decisão que tomei.

CARLOTA
Espero que tenha juízo pra fazer o que tem de ser feito.

HELENA
Conversamos a noite toda.

CARLOTA
Contou pra ele?

HELENA
Não.

CAROLA
Ele não vai lhe perdoar por esconder uma coisa tão séria. Carlos precisa saber.

HELENA
Precisa por quê? O trabalho é mais importante que tudo na vida dele. Carlos é ambicioso demais pra pensar nos outros.

CAROLA
Mas se você contar ele vem.

HELENA
Assim eu não quero, entendeu? Por piedade não. Vai acontecer de qualquer jeito.

CAROLA
Não fale assim.

HELENA
Ele vai embora logo mais à noite.

CAROLA
Tão rápido?

HELENA
Pediram a sua volta com urgência, quase tive um enfarto. Queria que ele mandasse aquele CHEFE pro inferno. Que ódio, Meu Deus!Pedi tanto a ele que ficasse.


CAROLA
E ele?

HELENA
Percebeu que o meu desespero não é algo normal, mas mesmo assim precisa ir. Chega! Não falo mais nada.


CAROLA SE LEVANTA E HELENA SE EXAUTA.

CAROLA
Vou procurar o Carlos e contar tudo, AGORA.


HELENA BATE NA MESA CHORANDO

HELENA
Pelo amor de Deus, não faz isso. Eu te proíbo, entendeu?

CAROLA
Você precisa dele aqui, mais do que nunca.

HELENA
Eu quero assim. Graças a Deus que você é minha amiga e está aqui. Deixa o Carlos ir sem saber de nada.

CAROLA
E As crianças? Fico preocupada. Ontem fui procurar o seu médico.

HELENA
FOI procurá-lo?

CAROLA
Sim.

HELENA
O que ele disse?

Carola se cala. Encara a amiga, fraca fisicamente senta na cadeira.

INT.QUARTO-NOITE.

Carlos beija os filhos, depois abraça com Helena. Os olhos estão cheios de lágrimas.

CARLOS
Volto logo querida.

EXT. AEROPORTO-NOITE.

Carlos embarca e o avião decola no céu de Belo horizonte.

Int.Quarto-noite.

(Música suave)
Através de pequena abertura na cortina da janela Helena chora olhando um avião que sobrevoa o céu escuro.

EXT. RUA-MANHÃ.

Pessoas andando assustadas. Tiros de canhões são ouvidos por crianças jovens e adultos que apavorados correm de um lado a outro, entram nas casas. Os passos largos Carlos e sua equipe de três pessoas adentram o Hotel.

INT.QUARTO-MANHÃ

Os três rapazes trancam rapidamente a porta ao entrar e Carlos apressa em guardar em um canto as ferramentas de trabalho. Retira a capa, dobra-a e aproxima da janela, olha através do vidro e tem o céu como cenário principal.
Fusão para a cena da despedida de Helena.

As cenas de Helena CHORANDO se misturam com as rajadas lá fora. Coloca as mãos no peito, fecha os olhos, mais um estrondo. Carlos tampa os ouvidos. Marcelo se aproxima.

MARCELO
E aí companheiro, a coisa aí fora ta pegando fogo, mas pelo jeito aí dentro do seu peito, ta pior. O que aconteceu no Brasil? Voltou meio pra baixo.

CARLOS
Ela não queria que eu voltasse cara. Nunca vi Helena tão agoniada.

Marcelo
E não é pra menos. Ela te ama.

CARLOS
Eu sei, mas é só por mais alguns dias. Essa guerra não vai durar a vida toda. A resistência do exército de oposição está enfraquecendo. E questão de mais algum tempo e voltamos todos pra casa. Custa ela ter um pouco mais de paciência?

Marcelo sorri e dá uma tapa nas costa de Carlos.

GILSON
Ainda não sei por que estou aqui no meio disso tudo. Mais se fosse casado não sei se me arriscaria tanto.

CARLOS
Olha pessoal, são trabalhos como esses que trazem oportunidades de promoção e não vou colocar tudo a perder agora. Eu amo a minha esposa e meus filhos. Mas eu gosto de me aventurar. Essa é a minha profissão, meu jeito de viver.

Um novo estrondo abala os três rapazes que se olham e Carlos volta o seu olhar pela janela.

POV CARLOS

Homens correndo, saindo do prédio em frente, gritos de pavor por socorro. Homens do corpo de bombeiro saltam do carro e corre em direção a entrada. O fogo inicia num prédio a pouca distância dali.

VOLTA ACENA

Carlos rapidamente fecha as cortinas, Marcelo e Gilson estão paralisados pelo susto. Os dois se levantam e pegam os equipamentos de trabalho. Carlos abre a porta, os outros o segue.

INT. CORREDOR-MANHÃ

Os três rapazes correm em direção à escada.

EXT. RUA-MAIS TARDE.

Extensa Movimentação acontece por causa da bomba, algumas mortes, pessoas saindo gritando. Chegam as ambulâncias, homens descem com as macas nas mãos. Os carros do corpo de bombeiros começam a apagar o fogo. Ao lado nas ruas mulheres procuram pelos filhos, desesperadas. Pessoas feridas são recolhidas pelos socorrista e colocadas nas ambulâncias que saem a todo vapor. Muitas pessoas mortas outras feridas, inclusive crianças.

A equipe de Carlos se movimenta para dar cobertura ao acontecimento. Enquanto Carlos e Marcelo trabalham, Gilson tem sua atenção voltada para estranho barulho como se fosse um choro de uma criança. Ele procura descobrir de onde vem e então depara com algo embaixo de um escombro. Levanta uma caixa e vê um menino de uns sete anos. Ele tem um lado do rosto em carne viva. Gilson dá um grito de horror. Carlos se aproxima e abaixa até ele.

Carlos
Chame alguém depressa, precisamos de ajuda.

Em pouquíssimo tempo a notícia já era do conhecimento de todo o mundo inclusive no Brasil.

INT.CASA DE HELENA-SALA DE TELEVISÃO-NOITE.

Helena Levanta-se do sofá e desliga o aparelho.

HELENA
Carola me ajude, estou sentindo mal. Só se fala na guerra. Não agüento mais.

EXT. HOSPITAL-DIA.

Helena e Carola estão sentadas diante do médico, DRºHÉLIO.

DOUTOR
Acho melhor começar logo com essas quimioterapias. Não há porque esperar mais.

HELENA
Eu tenho muito medo, mas preciso fazer, pelos meus filhos.

DOUTOR
Precisa fazer isso por você mesma menina. Cadê a sua força?

CAROLA
È isso aí, Doutor. Faça tudo que tem de ser feito. A partir de hoje Helena vai lutar por ela mesma.

DOUTOR
Então conto com você, pra ajudar nessa batalha.

Carola levanta aperta a mão do médico enxuga meio escondida duas lágrimas que escorre pela face.
Abraça com a amiga e deixa o consultório.

INT-DIA SEGUINTE-CLÍNICA. SESSÃO DE QUIMIOTERAPIA.

Deitada na mesa de olhos fechados. Tem do seu lado o espírito que segura em sua mão. Sorri para ela, transmitindo forças. Permanece do lado até que termine.

INT.MAIS TARDE-CASA DE HELENA-SALA.

Helena sentada no sofá tem as mãos na cabeça e olhos fechados. Toca a companhia e vai até porta. Carola está parada na soleira com as malas na mão.

CAROLA
Vim para cuidar de você.

HELENA
Eu não acredito no que estou vendo.
Você não me disse nada.

CAROLA
Se eu dissesse você não iria permitir
Não quero deixar você sozinha aqui com as crianças.


Ambas ficam paradas olhando uma pra outra
A emoção é grande. As duas começam a rir.

Helena abraça com Carola que emociona também. Ficam alguns minutos até que caminham juntas para o centro da sala. Ali coloca as malas.

CAROLA
Vou preparar alguma coisa pra gente comer.

HELENA
Eu vou ajudar. Também estou com fome.

CAROLA
Você está bem?

HELENA
Não estou muito bem. Aquele negócio é terrível. Por favor, diga que não preciso voltar lá.

CAROLA
Mas é o melhor tratamento que se apresenta no momento.

HELENA
Sinto meu corpo tremer. Eu quero notícias de Carlos. Tenho medo que ele não volte nunca mais. Sonho coisas terríveis com essa guerra.

Ext. RUA-PAÍS DE GUERRA-NOITE

O SUSTO DOMINA TODAS as pessoas. Pânico é o estado emocional geral, onde os tiros de canhão eram ouvidos a longa distância.

INT.NOITE-QUARTO DE HOTEL.

Carlos Gilson e Marcelo estão ainda assustados com os acontecimentos. Carlos nervoso passa as mãos constantemente no rosto e na cabeça. Olha pela janela e vê os clarões riscando os céus.

Gilson deitado na cama ao lado sente o corpo desfalecer pelo medo que ronda todas as residências. Marcelo está mais calmo, fuma um cigarro atrás do outro, mas Permanece de pé perto da janela.

CARLOS
Por pouco não acertam agente. Estou completamente perplexo. Atingiram um prédio ao lado do nosso quarto, Podíamos estar mortos, todos mortos como aqueles infelizes. Crianças dormindo, meu Deus!

GILSON
Eu quero a minha mãe.

Gilson anda de lado e outro com as duas mãos na nuca.

MARCELO
Eu também quero ir embora daqui, só que nós temos um contrato a cumprir, lembram?

CARLOS
Mais o meu contrato está terminando. Depois volto pro Brasil, podem apostar.

MARCELO
Eu vou junto com você. Isso aqui vai pegar fogo.


Mal acabam de falar, ouvem-se estrondos e riscos de fogo por todos os lados. As tropas Iraquianas Invadem o Kuwait. Sirenes tocam a todo instante
Carlos, Alberto e Gilson apanham os instrumentos de trabalham e descem novamente para os locais onde os estragos foram maiores.

INT.SALA-NOITE

A tensão aumenta e no Brasil ela é ainda maior no coração de Helena que assiste tudo pela televisão.

Trinta dias depois.

INT.SALA-DIA.

Carola molha algumas plantas na sala quando o carteiro entrega uma carta. OLHA e vê que é de Carlos

INT.QUARTO-DIA

Ao ler, Helena se emociona. Deitada, ela beija a carta antes de abrir.

CARLOS (V.O)

Perdoa-me por todos os sofrimentos causados pela minha ausência. Mas graças a Deus está chegando ao fim, voltarei o mais rápido que você imagina. A guerra tem sido para nós aqui no golfo uma grande experiência, mas a maior de todas as experiências é a falta que você me faz. A saudade hoje foi tão grande que resolvi lhe escrever. Vamos recomeçar querida e desta vez para sempre. Beijos do seu Carlos.

Helena aperta com força o pedaço de papel.
Levanta e vai até o espelho.limpa as lágrimas no rosto.

HELENA
Meu Deus!Tomara que me dê forças para eu te encontrar outra vez


Carola entra, olha Helena em frente ao espelho. Com as mãos na porta entre aberta, espera até ser percebida e abraça-a.

HELENA
Ele vai voltar logo Carola!

CAROLA
Ele vai sim, minha amiga. Agora vem jantar, vem?

HELENA
Não quero que ele me veja assim, olha como emagreci. Não sou mais a mesma pessoa, não sou a Helena que ele ama.

CAROLA
Claro que você é. Se ele te ama vai ficar feliz de poder de ver de qualquer jeito.

HELENA
Meus filhos precisam dele.

INT.COZINHA-NOITE

Helena tem dificuldade de se alimentar, procura com as mãos passar o tempo. Enquanto vira a taça em várias posições sempre com um vago olhar.

CAROLA
Precisa confiar no que o médico disse.
você pode se curar. Olhe que está nas mãos de um dos melhores especialista.
Depois Deus está do nosso lado. Ele quer a sua saúde. Senão não teria lhe dado dois bebês tão maravilhosos.


EXT. FEIRA-MANHÃ.

Na barraca da feira Carola escolhe a melhor batata e os melhores legumes para o almoço. Toca o celular. Ela olha e vê o número de Helena.

INT.CASA-MANHÃ.

Helena faz várias tentativas de falar com o marido e cobrindo os olhos com mãos tenta encobrir o desespero.

INT.SALA-MAIS TARDE.

Com o celular nas mãos Helena experimenta em cada cômodo com que o celular possa funcionar. Carlos está do outro lado do mundo.

INT.RUA-TARDE.

Carola e Helena passeando com as crianças pelos arredores do apartamento.

HELENA
Quero voltar, não estou me sentindo bem.

CAROLA
Sinto que você está mais triste hoje.

HELENA
Tentei durante todo o dia falar com o Carlos e não consegui. Tenho medo!

INT.QUARTO DE HOSPITAL-DIA.

Helena faz quimioterapia. Carlota segura a sua mão e vê duas lágrimas que escorre pela face dela.

INT.QUARTO-NOITE

CAROLA colocando um bebe no berço, enquanto Helena termina de dar a mamadeira ao outro.

Na sala a televisão anuncia o jornal das vinte horas, Helena se levanta,coloca o bebê ao lado de outro e sai. Carlota também deixa o quarto.

INT.SALA-NOITE.

APRESENTADOR DO JORNAL

Boa noite a todos. Nesta tarde enquanto buscavam informações sobre o avanço das tropas que bombardearam o Kuwait foram presos como refém alguns civis, inclusive jornalistas estrangeiros. Entre eles uma equipe de jornalistas Brasileiros: Carlos Alberto Saraiva Marcelo Cunha de Oliveira e Gilson Coimbra. Até agora não se sabe o que aconteceu realmente, mas o mundo teme pelas vidas dessas pessoas que cumprem o difícil trabalho de informar ao mundo o que se passa nessa guerra e que cada vez mais toma proporções arrasadoras.


Perplexa e com as mãos na boca Helena fica paralisada ante o impacto da notícia e a dor incontrolável que sente no peito. Carola procura anima-la, dando leve batidas em seu rosto e chamando-a pelo nome. Recompõe-se e corre ao telefone. Enquanto procura o numero do hospital, Helena consegue abrir os olhos.

HELENA
Meu Deus! Ajude-nos senhor. O que faço com essa dor. Carola... Carola.

INT.HOSPITAL-NOITE.

Helena deitada na maca já consciente e sob efeitos de remédios enquanto Carola segura as suas mãos.

HELENA
Logo agora que ele ia voltar para casa. Por que, carola, todas estas coisa estão acontecendo com a gente?

CAROLA
Mas ele vai voltar pra casa. È tudo notícia mal interpretada.

CAROLA MENTE.

O diretor do jornal ligou imediatamente pra você e deixou um recado, Foi alarme falso. Realmente eles foram presos, mas Carlos está vivo. Anime-se querida. Ele está vivo.

HELENA
Você jura que está falando a verdade?Ele está mesmo vivo?

CAROLA
Sim! Vivo!Graças a Deus. Tudo vai Acabar bem. O Carlos vai voltar pra casa.

HELENA
Quando? Quando vai libertá-lo? E meus filhos? Como estão meus bebês?

CAROLA
Temos que ter paciência. Seus filhos ficaram com a babá. Ela cuida deles com muito carinho. Não se preocupe. O médico pediu pra você passar esta noite aqui. Já vão levar você pro quarto e eu prometo ficar aqui até que você durma, ta bem?

INT.SALA/SECRETARIA DO JORNAL-DIA SEGUINTE

Carola aproxima da secretária.

CAROLA
Meu nome é Carola. Preciso falar com o diretor Orlando. É urgente, por favor.

SECRETÁRIA
Um Momento. Vou ver se ele pode recebê-la.

Ela disca um número e recebe a autorização para que Carola entre.

INT.SALA DO DIRETOR.

ORLANDO homem de sessenta anos, cabelos claros e olhos azuis. Bastante nervoso, com as mãos no bolso anda de um lado a outro, enquanto aguarda a presença de Carola.

Ao seu lado está Júlio, diretor administrativo da empresa. Juntos administram A surcusal no Kuwait.

A porta se abre e Carola aproxima estendendo a mão para cumprimentá-lo.

CAROLA
Meu nome é Carla Mota e sou amiga da esposa de Carlos. Preciso de informações seguras. Ela está muito mal. O que o senhor tem a me dizer?

ORLANDO

Sente-se Carla (Orlando indica a cadeira para que ela sente).

Em primeiro lugar, sinto muito pela Helena, eu não sabia que estava doente. Em segundo lugar temos informações que eles estão vivos, mas um pouco longe do nosso alcance, infelizmente. Estamos fazendo tudo que é possível junto à embaixada Brasileira, mas até agora nada posso acrescentar. Vamos confiar.

CAROLA
Precisamos mais do que confiança. Precisamos de certezas. Coisas concretas. A esposa de Carlos está num hospital, desde que ouviu a noticia ontem pela televisão. Helena está muito mal. Eu não sei mais o que fazer.

ORLANDO
Nós sentimos muito, quero colocar que estamos à disposição para ajudar no que for preciso.

CAROLA
Seu Orlando, Helena está com câncer.

ORLANDO
Meu Deus! Carlos está sabendo disso?

CAROLA
Helena não quis contar a ele, e nem me deixou fazer. Ele vive distante dela. O senhor sabe disso. Ela esperava que ele voltasse pra casa no mês passado, mas não foi o que aconteceu. Por isso escondeu a verdade.

Julio senta ao lado de Orlando com semblante de preocupação

JÚLIO
Nós sentimos muito tudo que aconteceu com nossos rapazes.

Carola se volta para ele.

CAROLA
Como foi que aconteceu? Onde eles estão agora?

Júlio
Sabemos que estavam filmando nas proximidades da Fronteira com o Iraque. Junto com eles há jornalistas de outros países também, o que torna mais fácil a negociação, entendeu?

EXT. GOLFO PÉRSICO-NOITE.

VÁRIOS prisioneiros enfileirados são conduzidos e obrigados a entrar num porão e jogados por dois soldados. A iluminação precária reduz a visibilidade, fazendo Carlos tropeçar em alguma coisa. O soldado 1 pára e lhe dá um chute. Soldado 2 assusta-se com o movimento do soldado 1 e aponta o rifle pronto a dispara-lo.Soldado 1 olha pra ele e acena com a cabeça que está tudo bem , saem em seguida fechando a porta deixando-os ali feridos.

Em meio aos prisioneiros Carlos levanta, caminha com dificuldade e olha um por um dos rostos assustados. Leva a mão na cabeça, sente o ferimento. Continua a procura pelos companheiros em meio aquele porão escuro.

MARCELO (falando baixo)
Carlos!Carlos! Estou aqui. Gilson também está comigo. Vem!

INT.QUARTO DO HOSPITAL-NOITE

Altas horas. Helena se debate com a insônia, dor e o medo. Ao seu lado Carola sentada em uma cadeira segura a sua mão e com um lenço enxuga o suor de seu rosto.


INT.PLANO ESPIRITUAL-SALA

Som da porta abrindo e entra Silvio e Laura. Dois amigos convocadas por entidade Joana, protetora especial de Helena.

JOANA
Meus irmãos. Chamei vocês aqui porque a minha tutelada precisa da nossa ajuda

SILVIO
Teremos o maior prazer em ajudá-la, cara Joana.

JOANA
Vocês já conhecem a história da nossa Helena, pois ajudou na preparação de sua volta a terra. Agora ela passa pelo ponto mais crucial da prova e temo que não resista se não interferirmos no que se refere ao passado.

LAURA
Como está Helena nesse momento?

JOANA
Vocês verão meus amigos. Helena não desenvolveu ao longo da vida o hábito da oração. Isso dificulta bastante. Com isso a sua percepção da espiritualidade é restrita. Somente podemos contar com o coração, que graças a Deus, não conserva nenhum resíduo de magoas maiores. Ela viveu até agora com certa resignação, mas temo que a onda da revolta comece a rondar a sua mente e isso agravaria em muito a sua situação. Temos permissão para trazê-la enquanto seu corpo repousa ainda essa madrugada. Por isso convoquei a ajuda de vocês.


SILVIO
É só dizer que HORAS PARTIREMOS.

JOANA
Agora meus irmãos. Seremos breves. Laura Espere por nós aqui.Ela vai precisar.

Laura concorda com um sorriso. A porta se fecha.

INT. QUARTO-HOSPITAL-NOITE

Os espíritos se mantêm afastados da cama. Assistem as suas lágrimas de dor e saudade. (música suave)

JOANA
Precisamos que ela durma.

Sílvio aproxima e aplica alguns passes. Helena sente um bem estar e boceja. Carola Levanta os olhos pra cima.

CAROLA
Obrigado MEU PAI.

No plano espiritual
JOANA
Vem Helena, filha. Entrega-se a Deus numa prece. Rogue a Deus a misericórdia do sono reparador.

JOANA e Silvio continuam oferecendo passes magnéticos e Helena eleva o pensamento a Deus como se a ouvisse. Aos poucos seu duplo etéreo se levanta e salta da cama. Liberta da matéria que permanece estendida na cama. Apóia em Joana e cai num choro profundo. È acalmada por Joana e Silvio.

ESPÍRITO HELENA
Quem são vocês?

Joana estende a mão e a segura com firmeza.

JOANA
Vem filha. Vem comigo!Deixa que repouse o vaso físico. Ele precisa reajustar as energias tão esgotadas. Vem!

Silvio a toma nos braços e a leva como se fosse uma criança adormecida.

INT.SALA DA ESPIRITUALIDADE-NOITE.

Silvio a deita numa maca. Laura aproxima. Helena acorda do transe magnético. Abre os olhos.

HELENA
Meu Deus! O que acontece comigo. Sei que ele é justo, por isso aceito a sua vontade. Sei que preciso confiar, mas eu peço meu pai, uma resposta ao meu coração que sangra de tanta dor.

JOANA (para Laura)
Aqui está a nossa Helena. Um pouco assustada para esse encontro, mas com certeza ela sairá daqui com um novo ânimo.

HELENA
Eu não sei do que vocês falam. Tenho dores fortes provenientes da doença, mas a dor da saudade ainda é mais forte. Agora que ele tinha decidido voltar para casa acontece essa tragédia. Nunca me senti tão sozinha no mundo. Onde está Carlos? Vocês sabem dele?Ele está vivo?

JOANA
Tudo lhe será respondido no momento certo. Estamos aqui para ajudá-la.

Silvio aproxima de HELENA e lhe dá a mão. Com o toque de Silvio ela tem um sentimento de paz, um êxtase. Helena respira fundo, fecha os olhos.

HELENA
Quem são vocês?Porque se interessam por mim?

LAURA
Trouxemos aqui para que se recorde, filha do coração, dos compromissos assumidos, junto a Deus e a você mesma. Não deve perder a coragem. Estará vivenciando o ápice do seu calvário. Estás bebendo o cálice da taça no resgate doloroso. É preciso ser forte. Lembre-se o MESTRE era inocente e não abandonou a luta.

HELENA
Estou assustada. Tenho plena consciência de tudo. O que vai ser de meus filhinhos, quando eu não estiver mais com eles. E agora? Sem o pai também para guiar-lhes os passos na infância. Terão de contar com a boa vontade dos outros. Eu sei que vocês são de Deus, vejo a luz maravilhosa que os ilumina, mas do meu coração só sai tristeza e revolta. Sinto-me muito cansada.

LAURA coloca a mão na sua cabeça com firmeza e suavidade ao mesmo tempo. Enquanto Silvio e Joana preparam a sala. Os papeis são tirados e postos na gaveta. As cortinas fechadas.

Uma tela é iluminada aos olhos de Helena.

EXT. RECUO NO TEMPO-JARDIM/DIA.

Uma mulher olha no espelho, admirando a beleza nele refletida. Vestida de forma elegante, chapéu preto e sapatos finos caminha entre os ramalhetes. Pára. Olha para traz.

O jardineiro aproxima e entrega nas mãos da mulher um pacote enrolado num papel. Ela olha o pacote e guarda-o no bolso do casaco.

Os passos largos ela se dirige para dentro da casa.

INT.QUARTO-NOITE

Close no relógio que marca duas horas.

Barulho de passos no jardim. Geórgia respira fundo retira o cobertor e vai até a janela.

POV. MULHER

Montado num cavalo um homem olha rumo à janela.

Geórgia sorri, acena com um lenço azul. Ela fecha as cortinas, anda de um lado a outro. Ajoelha ao lado do marido que dorme. Volta o olhar em direção a imagem de cristo pendurado na parede. Volta novamente à janela e olha o cavaleiro.

Fecha a janela e pé ante pé abre a porta e sai.

EXT. ESTRADA-DUAS E MEIA DA MADRUGADA.

Homem e Mulher sobre o cavalo em disparada.

INT.STÁBULO VELHO-DUAS HORAS E CINQUENTA MINUTOS.


O casal acende uma velha lareira. Venâncio vestindo roupa da época com vinte e seis anos reclama pelo frio da madrugada. A mulher tenta aquecê-lo abraçando-o pelas costas e virando-o de frente para receber um longo beijo.

EXT. ESTRADA DE VOLTA-POUCO DEPOIS.

Venâncio ajuda Geórgia a subir na garupa do cavalo, coloca em suas costas um casaco grande cobrindo todo o seu corpo inclusive a cabeça. Volta estrada afora rumo a casa dela. O animal vem devagar como se pudesse prolongar aquela poucas horas que restavam para estarem juntos.

A Câmara se aproxima do rosto de Venâncio e acompanha os passos do animal até o ponto onde Geórgia saiu. Pára o cavalo devagar. Ele a ajuda descer. Ela corre em direção à porta dos fundos. Ele vira o animal e volta agora em louca disparada.

INT.CORREDOR-TRÊS HORAS E QUARENTA MINUTOS.

Geórgia entra num quarto ao lado abre uma janela e se coloca a olhar o resto da noite. Aperta o ventre com as mãos e duas lágrimas descem em seu rosto. A porta semi-aberta. O marido para na soleira e chama seu nome. Geórgia vira com o susto e deixa cair sua bolsa.

Marido
O que você faz aqui há essas horas?Porque não está na cama?

VOLTA A CENA

INT.SALA ESPIRITUAL-NOITE

HELENA.

MEU DEUS! Essa mulher sou eu?

LAURA
Sim. E esse homem que você abandonou enquanto dormia, é Carlos.

HELENA
Eu não entendo.

LAURA
Basta recordar e sentir. Quer continuar?

HELENA
Quero sim.

EXT.AS MARGENS DO RIO-DIA

Venâncio e Geórgia caminhando à beira do rio de mãos dadas. Ela veste um vestido longo e tem os cabelos preso no alto da cabeça. Venâncio vê uma pedra embaixo de uma árvore e a conduz até ela. Eles sentam. Olhar sério de grande preocupação Geórgia olha o horizonte em seguida as águas do rio. Venâncio a puxa para perto de si. Ela se levanta.

VENÂNCIO
O que você tem?

GEORGIA

Ódio.
VENÂNCIO

De mim?
GEORGIA

Não, da vida.

VENÂNCIO
Acho melhor decidir o mais rápido que puder. O meu trem parte na próxima semana. Eu não posso viajar sem levar você comigo.

GEORGIA
E eu não posso levar esse filho no ventre, você entende?È como se eu nunca pudesse romper com esse casamento.

VENÂNCIO
Eu sei que você saberá resolver esse problema.

EXT. QUARTO DE GEORGIA-NOITE

ENTRA Uma mulher de sessenta anos, gorda, cabelos longo enrolado feito coque no alto da cabeça. Deitada na cama Geórgia olha o líquido que a mulher lhe entrega nas mãos.

MULHER
Como da outras vezes menina, tome tudo, que logo esse branco pula pra fora. É tiro e queda.

Geórgia vira o copo na boca e entrega-o a mulher que sai imediatamente olhando uma vez para traz

Ela levanta-se vai até o guarda roupa e começa a escolher alguns vestidos

GEORGIA
Fique aqui até que tudo se resolva. Não posso pedir nada ao Carlos. Se ele souber é capaz de me matar.

MULHER
Precisa tomar cuidado, menina. Vou à cozinha apressar o jantar, você vai ficar bem.

GEORGIA
Obrigado por ficar do meu lado.

A mulher sai fechando a porta, enquanto Geórgia vai até o guarda roupa, olha os seus vestidos de festa, coloca de frente o espelho, admirando a sua imagem, passa as mãos no ventre. Encontra seu perfume e coloca um pouco em cada face.

Carlos entra e vê Geórgia em frente ao espelho.

CARLOS
Meu amor, eu não quero que vá a festa. O médico pediu pra ficar de repouso. Você está grávida. E é uma gravidez de risco. Eu não quero perder esse neném. Não resistiria passar por tudo de novo.

GEORGIA
Eu estou muito bem e não vou ficar o tempo todo deitada nessa cama, por causa dessa gravidez, entendeu? Eu sou jovem, preciso respirar, já não basta esse enjoou horroroso. Arrume-se Carlos, porque esse baile eu não vou perder por nada nesse mundo.


INT.SALA EPIRITUAL-NOITE/CONTINUAÇAÕ.

Helena se contorce na poltrona e o aparelho é desligado por Sílvio, enquanto Joana e Laura aplicam passes de dispersão.

INT.QUARTO DE HOSPITAL-DIA.

CAROLA ABRE a porta. Helena sentada na cama
Toma o café. Ao lado a enfermeira auxilia. Ao ver Carola chegar lhe passa a bandeja.

CAROLA
E aí amiga, como passou a noite?

Passei bem melhor, sonhei com os anjos (sorrindo).
Meus filhos... Eu quero vê-los, acho que posso voltar pra casa.

CAROLA
Com certeza, voltaremos ainda hoje. O médico estará aqui Dentro de pouco, e se continuar com essa carinha boa, ele nos manda embora num minuto.

HELENA
Que bom. Tem notícias de Carlos?

Carola procura juntar as roupas, sapatos toalhas dentro do quarto para não falar sobre o assunto. Os olhos fixos de Helena acompanham cada gesto de Carola.

HELENA (CONT.)
Carola, eu não sinto dor alguma hoje.

CAROLA
Que bom Helena. Atribui isso aos sonhos?

HELENA
EU NÃO sei definir o que é, mas sinto-me mais leve e disposta. Quero voltar pra casa, trabalhar, cuidar dos meus filhos. Eu quase ouço o choro deles. Eles precisam de mim.

Carola sorri. Olha pro alto, levanta as mãos. Helena joga as cobertas de lado e levanta, sente se tonta.

CAROLA
Vá com calma amiga, deixa que eu a ajude.

Helena se recompõe devagar, respira fundo. Está fraca, senta se na cama. Carola senta se ao seu lado.

INT.QUARTOS DOS FILHOS-DIA.

Helena entra e fica a olhar os rostinhos dos filhos, pega em seus dedinhos. Acaricia-os pega um deles no colo e beija várias vezes. Depois pega o outro e também o beija várias vezes. Olha o retrato de Carlos na parede. Respira. Lágrimas escorrem em sua face.

INT.SALA/TARDE

Carola abre a porta de mansinho
Vê Helena deitada na rede de olhos fechados
Junto aos filhos. Pára, olha e caminha pra frente.

HELENA
Onde você estava Carola?

Carola se volta.

CAROLA
Não queria acordar você. Fui ver o chefe de Carlos aqui no Brasil pra cobrar umas explicações.

O rosto de Helena se ilumina ENQUANTO BRINCA COM OS DEDINHOS DO FILHO.

HELENA
Eu sinto que ele está vivo! Mas eu sinto também que não voltarei a vê-lo com esses meus olhos físicos.

CAROLA (GRITA)
Não fale assim, pelo amor de Deus, nunca mais diga isso!


INT.QUARTO-NOITE.

Helena abre a janela e fica a contemplar a noite lá fora. Fica imóvel olhando a rua, os carros e os homens que iam e vinham.passa a mão lentamente na cabeça e as vê cheias de cabelo.vai em frente o espelho.Está diferente.chora,olha o retrato de Carlos ao lado,sente dores,relembra o dia do noivado.

FLASHBACK

EXT. RUA /NOITE.

Carlos dirige dando voltas ao redor da lagoa. Ponto de referência para encontros românticos. Pára o carro. Ao seu lado, Helena sorri.

Carlos procura algo dentro da pasta, encontra uma pequena caixa. Abre-a enquanto Helena cheia de curiosidade acompanha cada gesto nervoso que ele faz para abri-la.

Helena leva as mãos na boca ante a surpresa. Uma aliança que Carlos carinhosamente tira e coloca em seu dedo.

CARLOS
Quero casar com você Helena, para tê-la bem juntinho de mim. (abraça-a junto ao peito)
VOLTA ACENA

Carola entra no quarto com um copo de água e alguns remédios na mão e encontra Helena em pranto silencioso. Ela toma os comprimidos, enquanto a amiga a conforta com a ternura de mãe. Ajuda Helena a se deitar, passa as mãos em seus cabelos, vai até o berço e beija os dois filhos de HELENA E COM LÁGRIMAS NOS OLHOS DEIXA O QUARTO.

CAROLA
Dorme com os anjos. Estou sempre aqui e chame, se precisar.

Sob os efeitos do remédio, Helena sente-se apagar. Espírito Joana se aproxima lentamente em meio ao quarto escuro que agora já se faz iluminado. Chega, olha Helena estendido na cama, aplica–lhe passes por todo o corpo.

JOANA
Helena, Helena...

E Helena em espírito se levanta lentamente, volitando a alguns centímetros acima do corpo, pairando no ar.

JOANA
Vamos filha, já estão a nossa espera.

INT.SALA ESPIRITUAL-NOITE.

Adentram os dois espíritos. Laura e Silvio sorriem para Helena.

INT.PRISÃO-DIA -

Na prisão Carlos caminha entre quatro paredes. Sujo, barba por fazer. Ao seu lado pessoas chorando, homens machucados, feridas expostas.

INT.PRISÃO-NOITE

Carlos cansa de ficar de pé. Ele senta-se no chão. Ao seu lado Silvio espírito aplica passes.
Laura aproxima em prece.

SILVIO
Há dificuldade em fazê-lo dormir. Estão todos muito assustados, traumatizados, porque não sabem o que poderá acontecer amanhã.

LAURA ESPÍRITO (FALANDO PRA CARLOS)
Pense em DEUS, Carlos. Reze. Você sabe rezar

SILVIO
Ele não nos ouve Laura. Desde que aconteceu a prisão, Carlos vive um processo de culpa que vem minando a sua resistência. Não acredita que sairá vivo daqui. O seu pensamento se volta pra mulher e pros filhos no Brasil. Sente–se culpado pela situação a tal ponto de esquecer da esperança e da fé. Eles todos estão aguardando o pior. E isso dificulta ajuda.

Laura aproxima de Gilson.

Coloca as mãos em sua cabeça e Gilson sente um arrepio. Continua com as mãos e de repente ele se levanta.

GILSON
Carlos, Marcelo. Não sei por que me lembrei de Deus. Agente não reza, eu pelos menos não sei rezar direito. Quem sabe ele manda alguém aqui nos ajudar.

Todos entendem e se dão as mãos. Fazem uma corrente ao redor dos espíritos que sorriem felizes.

TODOS
PAI NOSSO, QUE ESTAÍ NOS CEUS... SEJA O VOSSO NOME...

SILVIO
Quando é que eles vão entender, Meu Deus!Seria tão mais simples.

LAURA
CARO IRMÃO, eles vão entender. São crianças adormecidas...


INT.SALA ESPIRITUAL-NOITE.

Helena está diante do aparelho. Sonolento entra Carlos amparado pelos espíritos Silvio e Laura
Ela se vira e seu rosto se ilumina. Carlos se assusta Helena levanta e o abraça.

CARLOS
Helena querida é você mesma?

HELENA
Sim meu amor, sou eu mesma. Onde você está que não volta para casa. Nós precisamos de você.tanto! Tanto!

CARLOS
Eles me explicaram algumas coisas enquanto vínhamos pra cá. Ele disse que meu corpo dorme, e que tenho de voltar.

HELENA
Que bom que você está vivo. O que aconteceu com você?

CARLOS
Eu fui preso em algum lugar escuro, muito escuro, Não vejo a luz do sol. Eu e meus companheiros temos fome e sede. Alimentam-nos mal e estamos com muito medo.

Chamo sempre por você. Devia ter ficado em casa como você queria. Acho que é castigo de Deus.

HELENA
CARLOS, Deus não castiga ninguém, ele nos ama. Nós é que somos responsáveis pelas nossas ações. Eu estou doente. Acho que não vou poder criar os nossos filhos como planejamos. Vou deixá-los com você, por isso é preciso que volte e viva. Eles precisam de seu carinho e proteção.

Carlos ouve e chora desesperadamente. Do lado as entidades permanecem em prece.

CARLOS
Perdoa Helena, perdoa. O remorso vai me sufocar. Lembrei-me tarde demais de você.

Ante o desespero de Carlos Silvio se aproxima.
Helena e Carlos permanecem abraçados e ele coloca a mão direita nos ombros de Carlos.

Carlos pede.

CARLOS
Deixe-me ficar com ela.


HELENA
NÓS ENCONTRAREMOS sempre que a saudade apertar. Eu tenho estudado muito a respeito e descobri que somos eternos. Agradeço a Deus por isso.

CARLOS
Queria Poder lembrar desse encontro com toda a clareza, porque o meu coração não suporta mais a saudade e o arrependimento pela escolha de vida que fiz. Saí em busca das coisas. Tive a vida e a felicidade aos meus pés e não sabia. Sou egoísta e não posso me perdoar.


INT.PRISÃO-MADRUGADA.

CARLOS GEME.

MARCELO APROXIMA DELE E O BALANÇA.

MARCELO
Carlos acorda! Acorda!

CARLOS (assustado)
Eu estou com medo, que barulho é esse (ouve se tiros lá fora).

Marcelo (falando bem baixo)

Estão bombardeando a cidade. Calma, vem vindo alguém aí.
Carlos abre os olhos assustado.

CARLOS
O quê?Quem está chamando?

MARCELO
Ninguém está chamando. O mundo parece desabando e você dorme. Eu nem prego os olhos cara.

CARLOS (Tapando os ouvidos)
Meu Deus Tende piedade de nós. Eu não quero morrer aqui.

Lá fora os bombardeios fazem clarões no céu. Pessoas correm rumo aos abrigos, casas pegam fogo. A sirene apita. Os socorristas descem com as macas. Crianças choram. Mulheres choram.

Dois dias depois.

INT.SALA-DIA.

CAROLA abre a porta.

CAROLA
Doutor, que bom que você veio rapidamente. Eu quero conversar um pouco antes de ver Helena.

DOUTOR
O QUE está havendo Carola. Estou aqui para ajudá-la.

CAROLA
Ela está cada dia pior. Temos poucos amigos. Somos de outro estado. Helena não tem pais e é filha única.

Doutor
Estão passando dificuldades financeiras?

CAROLA
Não. Eles possuem um ótimo plano de saúde Graças a Deus. O problema é que eu não sei como passar forças a ela se eu não tenho forças. Sinto me morrer com ela, principalmente quando olhos as crianças. Estou fraca. Tenho medo de que não estejamos fazendo todo o possível para salva-la.

Doutor
Estamos fazendo sim carola!Não dispomos de outros meios. Não há cura dentro da medicina para ela. Pelo menos até o momento. Tenha fé, reze. Já vi pessoas se curarem de câncer. O que me dói é vê-la morrer a cada dia sem a presença do marido para apertar a sua mão.
Sinto que a dor dele será maior do que a dela.

EXT. QUARTO-HOSPITAL DIA.


POV-OLHOS DE HELENA


FLASHBACK-CENAS DA VIDA PASSADA


EXT. EM FRENTE À CASA GRANDE-NOITE


Um homem desce do cavalo. É O marido de Geórgia com roupas de montaria ele caminha a passos largos em direção a porta de entrada. Abre a porta.

INT SALA-NOITE

Entra chamando o nome da mulher, vai subir as escadas sua atenção volta até um papel em cima da mesa. Ele pára pega o papel. Dá um grito.

MARIDO
Não!

EXT. ESTAÇÃO DE TREM-NOITE

O apito do trem anuncia a sua chegada. Ele pára. Um casal abraçado caminha firme e decidido rumo ao embarque de passageiros.


FIM DO FLASHBACK


Novamente os olhos de Helena vão se afastando da tela até se ver toda a extensão do quarto de Hospital.

HELENA
(fala entrecortada e baixa)
Carola...

Carola aproxima da cama e segura suas mãos.

CAROLA
Estou aqui, meu amor, ao seu lado.

HELENA
Carlos ainda está preso, não está?

CAROLA
Sim! Mas eu conversei com o Orlando e ele disse que eles serão libertados o mais rápido possível.

HELENA
Eu não acredito nisso.
Tenho pena de você

CARLA
De mim? Por quê?

HELENA
Vai ficar muito confusa, depois que eu me for, com dois bebês nas suas costas. Vai criá-los para mim?Não sei se tenho o direito de pedir isso a você. Mas queria que eles fossem criados por quem realmente possa amá-los. E você pode. Não quero que eles sofram.

CAROLA
Nunca deixaria que isso acontecesse com eles, amiga. Fica tranqüila.

HELENA
Você é jovem demais. Eles vão atrapalhar a sua vida. Não tem obrigação com algo que você não planejou. Ser mãe tão cedo.


Carla deita o rosto no peito de Helena tentando sorrir.

Carola
Então eu serei a irmã mais velha deles e irmã mais velha cuida dos irmãos mais jovens. Está bem?Eu os amo tanto quanto você. Mas eu juro que quem vai criá-los é você e o Carlos. Por favor, não se entregue. Lute, lute por isso.

Helena fecha os olhos, carola se afasta um pouco. Esforça para controlar as lágrimas e conter o choro.

Helena dá outro suspiro, respiração está ficando muito difícil. O médico e um enfermeiro entram e colocam o oxigênio. O olhar de Carola se encontra com o olhar do médico. Carola aproxima e segura as mãos dela. O Doutor passa as mãos carinhosamente sobre a cabeça em seguida sobre o rosto de Helena Ela abre os olhos, ainda sorri. O médico sai.

Helena
Se algum dia você gostar de Carlos, eu não a condenaria por isso, eu...

Carola leva o dedo nos lábios de Helena.

Carola
Psiu! Não diz mais nada querida. Isso é um absurdo. Descansa depois agente fala sobre isso.

Carola se levanta andando de costas e sem tirar os olhos dos olhos de Helena. Mas eles já estão fechando.
Carola
Meu Deus!

Abre a porta do quarto e ao lado na sala do corredor a TV anuncia o “jornal” da noite.

Locutor
Atenção para essa notícia extra. Soltos agora a pouco os jornalistas preso há meses durante uma tentativa de filmagens nas imediações do território inimigo no golfo. Eles passam bem, embora bastantes magros barbudos e traumatizados pelo tratamento recebido durante a prisão. Vamos falar com o jornalista Carlos Cury.

E então Carlos, nesse momento qual é o seu maior desejo?

Carlos
Agradeço a Deus por estar livre. Agora o que mais quero é voltar pra casa e abraçar minha mulher e meus filhos o mais rápido possível. Só isso. Não tenho mais nada a dizer.

INT.corredor do Hospital-noite.

Um rapaz da enfermagem vem correndo adentrando o quarto.

EMFERMEIRO
Gente!OLHA o que está anunciando, eles soltaram o Carlos. Helena, Hele...na

A vista da porta ele pára. Carola leva a mão à boca e caí num choro profundo.




FIM.
FADE OUT