sábado, 31 de dezembro de 2011

FELIZ 2012

Em torno dos dias moram nossas esperanças, de ver um novo tempo que se aproxima.
 De medir nossas mudanças, e a soma de tudo que aprendemos .
Foram muitos erros e alguns acertos, num mar de profundas reflexões.
Valeu a presença, valeu a vontade, valeu o amor.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Projeto de escola especial

Hoje eu imaginei uma escola, onde os alunos fossem todos bons de comportamento. Eles respeitavam os seus professores porque sabiam da possibilidade de serem banidos para uma escola especial, que os colocassem em seus devidos lugares. Esta seria uma instituição educacional que teria que existir em todas as cidades brasileiras, onde o regime seria de múltiplos aprendizados, escoltado por pessoas competentes em lhes mostrarem os limites para se viver, sem prejudicar os seus semelhantes. Esse projeto seria para alunos de escolas públicas e privadas, pobres e ricos, que após problemas como: Desacato a professores; praticantes de buly e comportamento agressivo; causadores de confusão e advertidos por três vezes consecutivas, sem melhoras de conduta, e sem solução aparente por parte dos seus responsáveis, fossem obrigados à transferência, independente da autorização de seus pais, para essa escola especial. Lá teriam como base de autoridades, um promotor de justiça, ou juiz da comarca, acompanhados de uma equipe de apoio, psicólogos, professores habilitados e outros profissionais requisitados para tamanha tarefa. Jamais deixar na rua, ou a escolta apenas da família que não conseguiu dar o suporte necessário para a formação de seu caráter. O ideal é que a descoberta desses comportamentos doentios fosse detectada o mais cedo possível na criança, para que mais rapidamente chegasse até ele esse apoio, mesclado de disciplina, compromisso e ao mesmo tempo de amor, carinho e religiosidade, respeitando as tendências familiares de cada um. Não é justo permitir que quem deseje aprender seja prejudicado por outros que não querem senão tumultuar o ambiente das escolas, levando professores, administradores e colegas quase à loucura, e colocando essas vidas a mercê de riscos diversos. Eu fiquei por horas imaginando essa escola, depois que um promotor de justiça da cidade fez uma visita a uma escola estadual de minha cidade, e na palestra ele disse sobre a atuação desse poder judiciário, ajudando nas ocorrências de desobediência por alunos com os professores. Eu percebi o quanto seria difícil à realização dessa promessa, porque todos nós sabemos do amontoado de trabalho acumulado do poder judiciário, e que na verdade eles não teriam tempo disponível para dar esse tipo de assistência em todas as escolas existentes por aqui, o que nunca única instituição fosse mais possível esse atendimento.

Os problemas nunca são enfrentados de frente nesse mundo de muita conversa e poucas atitudes. Que bom seria se os governantes tivessem realmente a vontade de fazer as coisas acontecerem. 

sábado, 3 de dezembro de 2011

É o que acontece com o mundo

A GENTE SE ACOSTUMA
Marina Colassanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto. 
A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra. 
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. 
A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto. 
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.
A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.